Espiga
Quinta-feira de Ascensão significa tradição em dia de múltiplos feriados municipais. O Dia da Espiga é um regresso aos campos, para compor o ramo de flores silvestres, trigo e videira, que se guardará até ao ano seguinte.
Na biblioteca da Sá da Bandeira, há estudos e apresentações sobre os costumes e tradições segundo as regiões de Portugal. Na classe 9 – 908 – a biblioteca tem classificado um conjunto de obras muito completo acerca dos usos e costumes do Ribatejo: pronto a consultar, ler, requisitar.
Língua Portuguesa
Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas.
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio…» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais – tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é – não – a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.
Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. (…) Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro direto que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Bernardo Soares, Livro do Desassossego, no Arquivo Pessoa on line, aqui.
A literatura dos países de língua oficial portuguesa – em todas as suas variantes – pode ser lida na biblioteca da Sá da Bandeira. Basta procurar na categoria 821.134.3 – romance, poesia, contos, crónicas: há viagens de leituras surpreendentes à espera de todos.
MÃE em muitas línguas
Há um ano, o linguista Marco Neves, autor da página Certas Palavras, fez esta postagem sobre a palavra “MÃE” – transcrevemos uma pequena parte:
(…) muitas línguas da Europa e da Ásia pertencem a uma só família: a família indo-europeia. (…) chegou-se a uma forma provável para a palavra «mãe» tal como seria dita nessa língua muito antiga: «*méh₂tēr»(…)Essa palavrinha reconstruída deu origem à «mother» inglesa, à «mâdar» persa (…) à «mãe» grega («mitéra»), russa («matʹ»), letã («māte»), irlandesa («máthair») (…) à «motër» albanesa, com a peculiaridade que, nessa língua, a palavra acabou por significar «irmã». (…) Lá pelo Norte da Europa, entre florestas antigas e alguma escuridão, transformou-se na guerreira «mother» inglesa, na carinhosa «Mutter» alemã, na abreviada «mor» sueca (…) mais a sul, deu origem à «mater» latina, que se foi transformando na «mamă» romena, na «madre» italiana e espanhola, na «mère» francesa, na «mare» catalã e, claro, na nossa palavrinha (…) A «mater» latina, neste canto da Europa, acabou por se tornar nesta palavra toda ela nasal, feita do inevitável «m» e, depois, do ditongo «ãe» (…) Já se escreveu «mãy» (e não só). Dizemos «mãe», mas também «mamã», «mãezinha» e todas as outras formas que multiplicam o carinho e o amor pela mãe. A mesma palavra, quando se ouve na boca dum filho a chamar a mãe ao longe, transforma-se noutra coisa: numa «mã-iiiiihn».
Mesmo por cima de nós, temos a «nai» ou a «mai» galegas, a mostrar que as nossas palavras andam sempre ali na vizinhança das palavras dos vizinhos do Norte — e, como as línguas não param, a mesma «mai» aparece no cabo-verdiano, uma língua que nasceu do nosso português (…).
Para ler na íntegra o artigo de Marco Neves clique aqui.
MÃE
Na biblioteca da Sá da Bandeira, as MÃES são homenageadas com leituras e flores.
Aqui, as exposições de maio evocam o princípio feminino com aromas, livros de sabores e cheiros, especiarias para paladares e olfatos.
Maia e Maria são nomes de maio generoso, fértil em vida e beleza. É o princípio feminino em pleno, fruto da virtude do Amor, do Bem, do Belo. Na biblioteca há cores e aromas de flores e especiarias a evocar MAIO.
Aromas de MAIO
Maio em liberdade, de MÃE evocada em rosas vermelhas, de aromas e maias, maduro de papoilas e espigas – é MAIO na biblioteca, com exposições a lembrar Perfume e leituras de família, com chá , café e chocolate.
Madrugada em Abril
A ‘noite solene’ em que Salgueiro Maia falou aos seus homens, na parada da Escola Prática de Cavalaria, tornou-se o dia transformador da História de Portugal.
A exposição de Abril para visitar na biblioteca da Sá da Bandeira:
Livro- de Camões a Abril na biblioteca
Dia Mundial do Livro
No Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, a biblioteca da Sá da Bandeira evoca o direito à liberdade de criação, o direito ao reconhecimento de autorias e o direito de ler; mostramos a escrita censurada e a escrita livre, reiteramos a mensagem dos maiores organismos de associação de livreiros, de editores, de autores.
Celebramos a liberdade de leitura, expressão e publicação.
A nossa terra é sagrada
No Dia Mundial da Terra, a biblioteca da Sá da Bandeira recorda um dos textos mais poderosos e inspiradores em defesa da terra e da natureza – a Carta do Chefe Seattle, de 1854:
Como podereis comprar ou vender o céu? Como podereis comprar ou vender o calor da terra? A ideia parece-nos estranha. Se a frescura do ar e o murmúrio da água não nos pertencem, como poderemos vendê-los?(…)Para o meu povo, não há um pedaço desta terra que não seja sagrado. Cada agulha de pinheiro cintilante, cada rio arenoso, cada bruma ligeira no meio dos nossos bosques sombrios são sagrados para os olhos e memória do meu povo.(…)
Se vos vendêssemos a nossa terra, teríeis de recordar e de ensinar aos vossos filhos que os rios são nossos irmãos e também seus. E é por isso que eles devem tratá-los com a mesma doçura com que se trata um irmão. Sabemos que o homem branco não percebe a nossa maneira de ser. Para ele um pedaço de terra é igual a um outro pedaço de terra, pois não a vê como irmã, mas como inimiga. Depois de ela ser sua, despreza-a e segue o seu caminho.(…)
Se decidisse aceitar a vossa oferta, teria de vos sujeitar a uma condição: que o homem branco considere os animais desta terra como irmãos. Sou selvagem e não compreendo outra forma de vida.(…)Tudo o que acontece aos animais acontecerá também ao homem. Todas as coisas estão ligadas. Se tudo desaparecer, o homem pode morrer numa grande solidão espiritual. Todas as coisas se interligam. Ensinai aos vossos filhos o que nós ensinamos aos nossos sobre a terra: que a Terra é nossa Mãe e que tudo o que lhe acontece a nós acontece, aos filhos da terra.(…)
Se o homem cuspir na terra, cospe em si mesmo. Sabemos que a terra não pertence ao homem, mas que é o homem que pertence à terra. Os desígnios terrenos são misteriosos para nós. Não compreendemos porque os bisontes são todos massacrados, porque são domesticados os cavalos selvagens, nem por que os lugares mais secretos dos bosques estão impregnados do cheiro dos homens, nem porque a vista das belas colinas está guardada pelos “fios que falam”.(…)
Talvez um dia sejamos irmãos. Logo veremos. Mas estamos certos de uma coisa que talvez o homem branco descubra um dia: o nosso Deus é um mesmo Deus. Agora podeis pensar que Ele vos pertence, da mesma forma que acreditais que as nossas terras vos pertencem. Mas não é assim. Ele é o Deus de todos os homens e a sua compaixão alcança por igual o pele-vermelha e o homem branco.Esta terra tem um valor inestimável para Ele e maltratá-la pode provocar a ira do Criador. Também os brancos se extinguirão, talvez antes das outras tribos.
O homem não teceu a rede da vida. É apenas um fio e está a desafiar a desgraça se ousar destruir essa rede. Tudo está relacionado entre si como o sangue de uma família. E, se sujardes o vosso leito, uma noite morrereis sufocados pelos vossos excrementos. Onde está o denso bosque? Desapareceu. Onde está a grande águia? Desapareceu. Assim se acaba a vida e só nos resta a possibilidade de tentar sobreviver.
Carta do Chefe Índio Seattle ao Grande Chefe de Washington, Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta do Governo norte-americano de comprar grande parte das terras da sua tribo Duwamish, em troca da concessão de uma reserva.
E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra…
E à quarta-feira seguinte (22 de abril), pela manhã, topámos aves, a que chamam fura- buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz.
Pero Vaz de Caminha. Carta sobre o descobrimento da Terra nova q[ue] fez Pedro Alves. Feita na Ilha de
Vera Cruz em o 1.º de Maio de1500
Há 524 anos, a armada de Pedro Álvares Cabral chegava ao litoral sul da Bahia. A terra de palmeiras (Pindorama, em tupi) achada pelos portugueses seria o tema do relato enviado ao rei de Portugal, feito pelo escrivão Pero Vaz de Caminha. Um documento único, que vale a pena conhecer, na biblioteca da Sá da Bandeira.